Endocrinologia Pediátrica

Endocrinologia Pediátrica

A endocrinologia pediátrica é a especialidade médica que estuda as alterações hormonais na infância e adolescência.

O papel do endocrinologista pediátrico é identificar e tratar as situações de desequilíbrio hormonal, que afetam o crescimento e desenvolvimento da criança.

 

Crescimento

O crescimento é um ótimo indicador da saúde da criança. Os desvios em relação ao padrão normal podem ser a primeira manifestação de várias doenças.

O crescimento é controlado por fatores genéticos, hormonais e ambientais. A criança que apresenta baixa velocidade de crescimento deve ser avaliada minuciosamente para que a causa seja identificada, garantindo a indicação do tratamento adequado.

Cálculo do alvo genético (em centímetros):

Meninos: (altura do pai + altura da mãe + 13) / 2
Meninas: (altura do mãe + altura do pai – 13) / 2

 

Sobrepeso e Obesidade

Atualmente, um terço das nossas crianças encontra-se acima do peso normal.

A obesidade causa um estado inflamatório prejudicial ao organismo e pode acelerar todos os processos fisiológicos, como crescimento e puberdade. Além disso, gera problemas de ordem emocional.

O tratamento é fundamental para prevenção de doenças associadas à obesidade, como diabetes, aumento do colesterol e hipertensão, reduzindo o risco de complicações cardiovasculares na vida adulta.

 

Cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC)

Para saber se a criança está com peso normal ou não, utilizamos o cálculo do IMC:

Peso / (Altura x Altura)

Basta colocar o resultado na curva do IMC (para sexo e idade) e verificar:
Peso normal: percentil 5 a 85
Sobrepeso: percentil 85 a 95
Obesidade: acima do percentil 95

Curva de IMC para meninos:
http://www.cdc.gov/growthcharts/data/set1clinical/cj41c023.pdf

Curva de IMC para meninas:
http://www.cdc.gov/growthcharts/data/set1clinical/cj41c024.pdf

 

Puberdade

A puberdade é um período de transição caracterizado por maturação das gônadas, com aparecimento dos caracteres sexuais secundários e aquisição das funções reprodutivas.

O primeiro sinal de puberdade nas meninas é o aparecimento do broto mamário, enquanto nos meninos é o aumento do volume testicular.

A puberdade é considerada precoce quando inicia antes dos 8 anos nas meninas e antes dos 9 anos nos meninos. Há também os casos de puberdade que iniciam em idade normal, porém com rápida progressão, que também devem ser avaliados.

O tratamento deve ser direcionado à causa, buscando a regressão ou estabilização dos caracteres sexuais, evitando a rápida maturação esquelética com melhora da altura final e proporcionando ajuste psicossocial.

A puberdade que não inicia espontaneamente após os 13 anos, nas meninas, e após os 14 anos, nos meninos, é considerada atrasada e também requer investigação.

O desenvolvimento de pelos pubianos geralmente resulta da maturação das glândulas adrenais e seu início pode ser independente da ativação do eixo da puberdade. O surgimento de pelos pubianos e/ou axilares antes dos 8 anos, nas meninas, e 9 anos, nos meninos, pode ser um sinal de doença da glândula adrenal.

 

Tireoide

O hormônio produzido pela glândula tireoide é fundamental para o desenvolvimento da criança. A falta desse hormônio nos primeiro anos de vida compromete o desenvolvimento neurológico.

O hipotireoidismo pode ser congênito ou adquirido.

A maioria dos casos de hipotireoidismo congênito é identificada através do Teste do Pezinho. Graças a esta triagem o tratamento pode ser iniciado precocemente, evitando sequelas.

Em crianças maiores, a causa mais frequente é o hipotireoidismo adquirido autoimune, em que o próprio corpo produz anticorpos contra a glândula, comprometendo seu funcionamento.

A falta de hormônio tireoidiano reduz o metabolismo do corpo. O hipotireoidismo pode se manifestar com cansaço, aumento de peso, crescimento lento, inchaço, aumento do volume da glândula, intolerância ao frio, queda do rendimento escolar e outros sinais.

Em recém-nascidos e lactentes, os sintomas costumam ser inespecíficos e de instalação lenta. Pode haver icterícia prolongada, dificuldade de deglutição, letargia, extremidades frias e atraso de desenvolvimento.

O tratamento do hipotireoidismo é feito com a reposição do hormônio da tireoide, normalizando o metabolismo, o crescimento e o desenvolvimento da criança.

O hipertireoidismo, onde há excesso de produção do hormônio tireoidiano, apesar de menos frequente, também pode ocorrer nas crianças. Neste caso, há aumento do metabolismo, causando perda de peso, sudorese excessiva, insônia, tremores, etc.

O tratamento é feito com medicações que controlam o excesso de produção destes hormônios. Outras formas de tratamento podem ser necessárias.

 

Diabetes tipo 1

A glicose é a principal fonte de energia para as células do corpo. Para que possa ser utilizada, ela necessita passar do sangue para as células. A insulina é o hormônio que possibilita a entrada da glicose para dentro da célula.

O diabetes tipo 1 é uma condição onde ocorre destruição das células do pâncreas que produzem insulina. Assim, o corpo não consegue utilizar a glicose, gerando sofrimento das células e, ao mesmo tempo, o sangue fica cheio de glicose.

Os sintomas clássicos do diabetes são:

Poliúria: a criança urina demais, pois o rim tenta eliminar o excesso de glicose.

Polidipsia: sede excessiva, para compensar as perdas urinárias e pelo sangue estar muito concentrado de glicose.

Perda de peso: pela desidratação e consumo de outras fontes de energia, como a gordura.

Polifagia: fome excessiva, pois as células não estão recebendo a glicose.

O tratamento é realizado com a reposição de insulina, educação dos pais e da criança, orientação alimentar e atividade física.

Um bom controle é fundamental para prevenir as complicações agudas e crônicas da doença.

 

Dislipidemias

A dislipidemia corresponde ao aumento dos níveis de lipídios no sangue.

Os níveis de colesterol são resultado de fatores genéticos e ambientais (dieta, atividade física).

Uma avaliação do perfil lipídico é recomendada para crianças entre 9 e 11 anos. Porém, se houver fatores de risco, como excesso de peso, história familiar de dislipidemia ou outros, esta avaliação deve ser realizada mais cedo.

Os níveis desejáveis para crianças são:

• Colesterol total < 170mg/dl

• LDL (“colesterol ruim”) < 110mg/dl

• HDL (“colesterol bom”) > 45mg/dl

• Triglicerídeos < 75mg/dl para crianças até 9 anos

• Triglicerídeos < 90mg/dl para crianças de 10 a 19 anos

O tratamento com dieta, atividade física e, eventualmente, medicamentos, tem como objetivo prevenir a aterosclerose (placas de gordura nos vasos) prematura, diminuindo o risco cardiovascular no futuro.

 

Saúde Óssea

É durante a infância e adolescência que construímos nosso osso. Para otimizar o ganho de massa óssea é necessário um consumo adequado de cálcio, exercício físico e níveis normais de vitamina D.

A aquisição do pico ideal de massa óssea na juventude pode prevenir a osteoporose na vida adulta.

 

Vitamina D

A vitamina D é um importante regulador do metabolismo ósseo, além de exercer várias outras funções no organismo, como participação na imunidade e proteção contra doenças.

Apenas 10 a 20% da vitamina D são provenientes da dieta (peixes gordurosos como o salmão e o atum, ovos, laticínios e cereais enriquecidos).

A maior parte da vitamina D deve ser sintetizada na nossa pele através dos raios solares. É alta a prevalência de níveis insuficientes de vitamina D na população, inclusive nas crianças, pela baixa exposição ao sol.

A deficiência de vitamina D é geralmente assintomática, mas em fases mais tardias, os níveis muito baixos desta vitamina causam desmineralização óssea. As crianças podem, então, apresentar queda do crescimento, fraqueza e até mesmo arqueamento dos membros.

 

dra Juliana

Por Dra. Juliana van de Sande Lee
Endocrinologia Pediátrica